31/10/14

Chuva


Uma única exposição em vida

"Apesar de só ter realizado uma única exposição individual em vida, em 1936, no Porto, a obra de Alvarez não caiu no esquecimento após a sua morte, graças aos esforços de um grupo de amigos e admiradores que, juntamente com o pai do artista, organizaram logo em 1942/43 uma exposição de homenagem apresentada no Porto e em Lisboa. A este facto não foi certamente alheia a sua participação como membro fundador do grupo +Além, que reuniu um conjunto de vozes “modernas” entre arquitectos e pintores, sintonizado na oposição às homenagens póstumas à pintura de Marques de Oliveira.

Em Abril de 1929, o grupo lançou um manifesto intitulado Em Defesa da Arte, em que se afirmava que a arte não tem apenas como fim produzir emoção nos espíritos que a observam, mas tem também sobre si a grande missão de transformar as sociedades, sendo “qualquer coisa que grita, que nos contorce e nos abre a sensibilidade”. Nesse mesmo ano organizam uma exposição colectiva no Salão Silva Porto, no Porto.

Alvarez teve um percurso artístico demasiado curto, coincidente com catorze anos de formação académica intercalados com viagens a Espanha e períodos de doença, vindo a morrer tuberculoso, aos 36 anos de idade. Trabalhou em torno de um número restrito de temas plásticos, em que se destacam paisagens urbanas e rurais do Porto, Minho, Galiza e Castela, cenas de um muito particular quotidiano, com figuras negras e tortas, sobretudo masculinas, alguns cenários fabris e de trabalho fluvial, as admiráveis figuras à chuva, retratos de personagens vistas em primeiro plano sobre paisagens fundeiras e as majestosas torres das catedrais espanholas, Segóvia e, sobretudo, Santiago de Compostela. Esta nova apresentação em Lisboa (a última data de 1987, na Galeria Almada Negreiros, da SEC) propõe um reencontro com um artista com um corpus iconográfico já estabelecido, mas cujo estudo permanece ainda em aberto."

[ DAQUI ]


Dominguez Alvarez

1906-1942

17/10/14

Ler mais, e os melhores.

Tempo De Mercês

Um paraíso de lagartixas, pois claro. O que ele, menino pequeno, gostava de estar à coca delas, muito quieto e calado. Surgia de súbito a cabecinha tesa, de olhinhos espertos, depois o corpo acinzentado, expectante, com ar de folha seca, lanceolada, mas tão vibrante e alerta, tão em trânsito mesmo quando parecia dormir, com uma tão espantosa riqueza de vida, uma tão incrível vontade de viver, até quando o corpo parcialmente lhe fugia.

Maria Judite Carvalho

Maria Judite de Carvalho

1921-1998

10/10/14

Estranho Fulgor

 Deu-me Deus bodas vermelhas 
 E palavras como abelhas 
 Esquecendo-se de mim. 

 Deu-me a paz de alguns minutos 
 E palavras como frutos 
 Esquecendo-se de mim. 

 Deu-me as ideias formosas 
 E palavras como rosas, 
 Esquecendo-se de mim. 

 Deu-me a voz que persuade 
 Muito mais do que a verdade 
 Esquecendo-se de mim. 

 Mas um dia, veio a dor 
 Veio o castigo sem fim 
 Veio esse estranho fulgor 
 Apartando o bem do mal 
 E vi que Deus afinal 
 Já se lembrava de mim...


Pedro Homem de Mello

Pedro Homem de Mello

1904-1984

Da Historia Do Fado