12/12/14
05/12/14
Quarto de Costura
Um óvulo imaginado,
espesso, fosco, amarelo,
pólen e penugem
que a mais potente das máquinas
ainda não inventada
abriria em universos.
O que parece indivíduo é vários.
Fosse boa cristã
entregava a Deus o que não entendo
e arrematava o bordado esquecido no cesto.
Tenho labirintite. Amei Aristóteles com fervor.
E por longo tempo deixei-o por Platão.
Enfadei-me, saudosa de carne e ossos,
acidez de sangue e suor.
O que deveras existe nos poupa perturbações,
sou uma vestal sem mágoas.
Terei o que desejo, carregando minha cruz
e morrendo nela.
Adélia Prado
espesso, fosco, amarelo,
pólen e penugem
que a mais potente das máquinas
ainda não inventada
abriria em universos.
O que parece indivíduo é vários.
Fosse boa cristã
entregava a Deus o que não entendo
e arrematava o bordado esquecido no cesto.
Tenho labirintite. Amei Aristóteles com fervor.
E por longo tempo deixei-o por Platão.
Enfadei-me, saudosa de carne e ossos,
acidez de sangue e suor.
O que deveras existe nos poupa perturbações,
sou uma vestal sem mágoas.
Terei o que desejo, carregando minha cruz
e morrendo nela.
Adélia Prado
28/11/14
21/11/14
14/11/14
Prefácio
Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) -
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insectos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direcção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas -
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar
o silêncio das coisas anônimas -
passaram essa tarefa para os poetas
Manoel de Barros
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insectos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direcção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas -
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar
o silêncio das coisas anônimas -
passaram essa tarefa para os poetas
Manoel de Barros
07/11/14
31/10/14
Uma única exposição em vida
"Apesar de só ter realizado uma única exposição individual em vida, em 1936, no Porto, a obra de Alvarez não caiu no esquecimento após a sua morte, graças aos esforços de um grupo de amigos e admiradores que, juntamente com o pai do artista, organizaram logo em 1942/43 uma exposição de homenagem apresentada no Porto e em Lisboa. A este facto não foi certamente alheia a sua participação como membro fundador do grupo +Além, que reuniu um conjunto de vozes “modernas” entre arquitectos e pintores, sintonizado na oposição às homenagens póstumas à pintura de Marques de Oliveira.
Em Abril de 1929, o grupo lançou um manifesto intitulado Em Defesa da Arte, em que se afirmava que a arte não tem apenas como fim produzir emoção nos espíritos que a observam, mas tem também sobre si a grande missão de transformar as sociedades, sendo “qualquer coisa que grita, que nos contorce e nos abre a sensibilidade”. Nesse mesmo ano organizam uma exposição colectiva no Salão Silva Porto, no Porto.
Alvarez teve um percurso artístico demasiado curto, coincidente com catorze anos de formação académica intercalados com viagens a Espanha e períodos de doença, vindo a morrer tuberculoso, aos 36 anos de idade. Trabalhou em torno de um número restrito de temas plásticos, em que se destacam paisagens urbanas e rurais do Porto, Minho, Galiza e Castela, cenas de um muito particular quotidiano, com figuras negras e tortas, sobretudo masculinas, alguns cenários fabris e de trabalho fluvial, as admiráveis figuras à chuva, retratos de personagens vistas em primeiro plano sobre paisagens fundeiras e as majestosas torres das catedrais espanholas, Segóvia e, sobretudo, Santiago de Compostela. Esta nova apresentação em Lisboa (a última data de 1987, na Galeria Almada Negreiros, da SEC) propõe um reencontro com um artista com um corpus iconográfico já estabelecido, mas cujo estudo permanece ainda em aberto."
[ DAQUI ]
24/10/14
17/10/14
Tempo De Mercês
Um paraíso de lagartixas, pois claro. O que ele, menino pequeno, gostava de estar à coca delas, muito quieto e calado. Surgia de súbito a cabecinha tesa, de olhinhos espertos, depois o corpo acinzentado, expectante, com ar de folha seca, lanceolada, mas tão vibrante e alerta, tão em trânsito mesmo quando parecia dormir, com uma tão espantosa riqueza de vida, uma tão incrível vontade de viver, até quando o corpo parcialmente lhe fugia.
Maria Judite Carvalho
10/10/14
Estranho Fulgor
Deu-me Deus bodas vermelhas
E palavras como abelhas
Esquecendo-se de mim.
Deu-me a paz de alguns minutos
E palavras como frutos
Esquecendo-se de mim.
Deu-me as ideias formosas
E palavras como rosas,
Esquecendo-se de mim.
Deu-me a voz que persuade
Muito mais do que a verdade
Esquecendo-se de mim.
Mas um dia, veio a dor
Veio o castigo sem fim
Veio esse estranho fulgor
Apartando o bem do mal
E vi que Deus afinal
Já se lembrava de mim...
Pedro Homem de Mello
E palavras como abelhas
Esquecendo-se de mim.
Deu-me a paz de alguns minutos
E palavras como frutos
Esquecendo-se de mim.
Deu-me as ideias formosas
E palavras como rosas,
Esquecendo-se de mim.
Deu-me a voz que persuade
Muito mais do que a verdade
Esquecendo-se de mim.
Mas um dia, veio a dor
Veio o castigo sem fim
Veio esse estranho fulgor
Apartando o bem do mal
E vi que Deus afinal
Já se lembrava de mim...
Pedro Homem de Mello