(...) Acabou por decidir que a obsessão da sua presença seria preferível à obsessão da sua ausência (...) Mas por tardiamente ter descoberto em si o talento para a felicidade, maior o seu desencanto ao verificar que não podia ser feliz nem na companhia do marido, nem longe dele.
24/03/17
17/03/17
Mágica
Não há amor ilegítimo.
*
Axioma para os músicos: Os pássaros cantm mal.
Outro axioma para os músicos: Os barcos cantam melhor do que as sereias.
*
Conselhos aos pintores: Para estrangular a natureza, há que ter dedos de fada.
*
Os meus versos são cálculos de evasão
*
Era tão mau actor que chorava de verdade
*
A Poesia sou eu.
*
Fugir do Homem, fugir da Natureza e sentar-me em cima do arco-íris com uma pluma na mão.
10/03/17
03/03/17
Húmus
1 de Maio.
Não só os sentimentos criam palavras, também as palavras criam sentimentos. As palavras formam uma arquitectura de ferro. São a vida quase toda a nossa vida - a razão e a essência desta barafunda. É com palavras que construímos o mundo. É com palavras que os mortos se nos dirigem. É com palavras, que são apenas sons, que tudo edificamos na vida. Mas agora que os valores mudaram, de que nos servem estas palavras? É preciso criar outras, empregar outras, obscuras, terríveis, em carne viva, que traduzem cóleras, o instinto e o espanto.
24/02/17
S / Título
Oh, como a hipocrisia
seduz, e como se esquece
que em criança se está mais perto
da morte que na velhice
Ébria de sono, a criança
sorve ao menos a ofensa do pires,
mas eu - com quem me amuaria? -
sozinho estou, em todos os caminhos.
Não quero dormir como um peixe
no desmaio fundo das águas,
é-me querida a escolha livre
dos meus cuidados, dores e mágoas.
seduz, e como se esquece
que em criança se está mais perto
da morte que na velhice
Ébria de sono, a criança
sorve ao menos a ofensa do pires,
mas eu - com quem me amuaria? -
sozinho estou, em todos os caminhos.
Não quero dormir como um peixe
no desmaio fundo das águas,
é-me querida a escolha livre
dos meus cuidados, dores e mágoas.
17/02/17
10/02/17
03/02/17
27/01/17
20/01/17
Espera
Enquanto dormes
No umbral dos teus sonhos,
Espero e contemplo silenciosamente o teu rosto
Quando a primeira estrela da manhã aparece na tua janela.
Assim, à beira-mar,
O asceta em plena meditação
Olha para o Este...
As suas horas de vigília são passadas em insónia e êxtase,
Enquanto espera a sua imersão
Na primeira luz da manhã.
Com os meus olhos
Beberei o primeiro sorriso
Que floresce nos teus lábios entreabertos
Como uma flor recém-nascida...
Esse é o meu desejo
No umbral dos teus sonhos,
Espero e contemplo silenciosamente o teu rosto
Quando a primeira estrela da manhã aparece na tua janela.
Assim, à beira-mar,
O asceta em plena meditação
Olha para o Este...
As suas horas de vigília são passadas em insónia e êxtase,
Enquanto espera a sua imersão
Na primeira luz da manhã.
Com os meus olhos
Beberei o primeiro sorriso
Que floresce nos teus lábios entreabertos
Como uma flor recém-nascida...
Esse é o meu desejo
13/01/17
Cerejas
Nas cerejas havia o aroma da fermentação como em mais nenhum fruto. Apanhadas directamente da árvore, sabiam a enzimas com gosto a sol e este sabor era complementado com o brilho especial da sua pele.
Se comermos cerejas mesmo uma hora depois de serem apanhadas, o seu sabor funde-se com o da sua própria podridão. No dourado ou no vermelho da sua cor há sempre um vislumbre de castanho: a cor na qual irão amolecer e desintegrar-se.
A cereja refresca, não devido à sua pureza - como a maçã - mas por levemente, quase imperceptivelmente, picar a língua com a efervescência da sua fermentação.
Graças ao tamanho reduzido da cereja e à leveza da sua carne e à insubstancialidade da sua pele, o caroço da cereja foi sempre incongruente. Comer a cereja nunca nos preparava bem para o seu caroço. Quando o cuspíamos, parecia ter pouca relação com a carne que o rodeava. Assemelhava-se mais a um precipitado do nosso próprio corpo, um precipitado misteriosamente produzido pelo acto de comer cerejas. Após casa cereja, cuspíamos um dente de cereja.
Os lábios, distintos do resto do rosto, possuem o mesmo brilho das cerejas e a mesma plasticidade. Ambos têm a pele semelhante è pele de um líquido. É uma questão de superfícies capilares. Faz um teste para ver se a nossa memória não nos falha ou se os mortos exageram. Põe uma cereja na boca, não a mordas já, e por um milésimo de segundo repara como a densidade, a suavidade e a resiliência do fruto se equiparam perfeitamente à natureza dos teus lábios que o sustentam.
[ in "Aqui Nos Encontramos", Ed. Civilização ]